Capítulo 1 - O inverno desaparecido


O vento soprava, fazendo as flores das cerejeiras se agitarem. Naquele dia, dezenas de pessoas se reuniam em uma só tristeza. Lamentavam, única reação que parecia ser exata naquele momento de ternas despedidas. Lágrimas escorriam sobre minhas bochechas pálidas, e quando chegavam a minha garganta, pareciam queimá-la desumanamente, como se me acusassem. Mas alguém teria que me culpar, eu não tentei impedir que aquele fim trágico acontecesse.
Indivíduos pranteavam com desespero, a tristeza corroia tanto eles quanto a mim. O padre rezava, mas minha mente estava lotada de recordações atormentadoras, tornando impossível prestar atenção no que ele falava. Uma parte de mim foi destruída em pequenos pedaços, a vida voltou a não fazer sentido algum. Senti um aperto no coração, eu precisava voltar ao meu harmônico e relaxante refúgio, o qual eu não visitava fazia meses.
As roupas escuras deixavam o ambiente tenso e deprimente. O coral de soluços e respirações ofegantes continuava acontecendo, enquanto os pais de Bianca choravam sufocadamente, parados ao meu lado.
Desde quando a conheci, seus pais eram como uma segunda família para mim. Mas eu não poderia mais conviver com os procriadores da garota que eu deixei morrer. Não era certo trazer lembranças de Bianca para eles. Não naquele momento, não com toda aquela sensação de abandono.
A dor aumentava a cada instante em que eu me encontrava ali. Eu precisava urgentemente sair, correr até minhas pernas não aguentarem mais, até eu poder achar algum motivo para recuperar minha sanidade.
Depois de algum tempo, chegou ao fim. As pessoas se retiravam lentamente, enquanto eu permanecia parada, refletindo. Então, uma mão fria tocou meu ombro.
— Como você está? — perguntou, mesmo sabendo a resposta.
— Como você acha que estou? — eu disse friamente.
— A culpa não é sua, Sophie, você sabe disso.
— Não tente me confortar agora, Lara. É claro que a culpa é minha. — Fitei o chão, pensativa — Eu... eu podia ter impedido.
— Não, você não podia. — Ela também fitou o chão — Aconteceria, cedo ou tarde.
— Você não pode prever o futuro.
— E você pode? — deu uma risada sarcástica — Acho que você deveria seguir em frente, sabe? Fingir que nada aconteceu.
— Minha melhor amiga acabou de morrer e você quer que eu finja que nada aconteceu? — Levantei a cabeça com os olhos arregalados.
— Existe outra opção?
— Que absurdo. Eu só preciso de um tempo, Lara, por favor.
Lara me encarou censuradamente por alguns segundos e se virou.
— Como você quiser. Só não venha me pedir conselhos depois. — disse, se retirando.
Eu não entendia a reação de Lara. Como ela podia dizer para mim esquecer que a pessoa que eu sempre admirei estava morta? Parecia muita insensibilidade de sua parte, mas no fundo, no fundo mesmo, fazia algum sentido.