Capítulo 2 - Surpresa de inverno


O som agudo do despertador me acordou, forçando-me a levantar. Não ia ao colégio havia duas semanas, porque simplesmente não existiam motivos. Arrumei-me com diligência e desci as escadas, cada degrau me deixava mais próxima das lembranças que eu evitava trazer à tona. Um conjunto de tristes emoções começou a se formar dentro de mim, eu realmente não queria voltar ao colégio, não aquele colégio. Mas era uma obrigação que eu deveria cumprir. Peguei minhas coisas e saí de casa.
O clima frio do inverno me causava sono, as ruas calmas e nevadas me distraíam. Assustei-me ao ver dois garotos passarem correndo, o humor em seus rostos me fez lembrar a felicidade que tomava conta de mim quando estava com Bianca, da vontade constante de estar ao seu lado. Acelerei meu passo, o caminho não era longo, mas quanto mais cedo eu chegasse, mais tempo ficaria em meu refúgio.
Pouco tempo havia se passado até o momento em que cheguei ao portão do colégio. Faltavam alguns minutos para o início da aula, tentei atravessar a multidão de adolescentes, mas foi em vão.
— Ei! Sophie veio. — disse uma garota sorridente para as amigas.
Milhares de olhos curiosos começaram a me espreitar, tentei parecer o mais indiferente possível.
— Sophie! Sophie! — exclamou a garota, vindo em minha direção — Que bom que você está aqui.
— Ah, oi Manuela. — minha voz saiu tão baixa, que duvidei que a garota tivesse escutado.
— Pensei que você não viria mais. — olhou para as duas amigas — Laís e Melanie achavam que você tinha mudado de colégio. E para ser sincera, eu não duvidei.
— Não sou tão fraca assim, Manu.
— Não foi bem isso que eu quis dizer, desculpe. — disse, pensativa.
— Eu entendo.
A garota sorriu.
— Quer conversar?
— Talvez mais tarde. — eu também sorri, tentando não transparecer a minha melancolia — Não sou muito sociável quando estou com sono.
Manuela me lançou um olhar desapontado, talvez por não ter conversado com ela, ou simplesmente porque esperava qualquer expressão em minha face, menos a que manifestava felicidade.
O sinal tocou, Manuela e suas amigas se entreolharam e começaram a caminhar até a entrada do colégio.
— Seria bom se você viesse com a gente. — disse Melanie.
— Não posso. Tenho que ir à um lugar antes de ir para a aula.
As três se entreolharam novamente e tornaram a andar.


O chão do pátio estava coberto com uma densa camada branca, as árvores cobertas de neve não possuíam mais folhas. O que havia de errado com aquilo? Apenas a estação do ano mudara, não era para eu ter mudado também. “Estou sozinha novamente”, lembrei à mim mesma. Um vazio se apoderou de mim, o frio congelou meus sentimentos, não me dei o trabalho de sentar no pequeno banco, eu tinha pouco tempo alí.
— Então aí está a senhora sumidinha. — disse uma voz feminina e estridente. Não me era familiar, não era de nenhuma das coordenadoras ou funcionárias do colégio. E eu não tinha tempo.
Continuei parada, observando o meu falso refúgio, evitando a voz que me provocava. Aquela presença me incomodava, tentei suportar o importuno que a curiosidade me causava, mas não resisti. Virei-me rapidamente. O frio fazia sua pele parecer reluzente e lisa, dando impressão de eu estar olhando uma boneca de porcelana viva. Ela olhava para mim, esperando uma resposta.
— Não vai dizer nada? — sua voz agora estava mais calma.
— Não. — eu murmurei, me esforçando o máximo para parecer indiferente. Seus cabelos eram tão ruivos quanto os de Bianca, porém seus fios eram mais longos e um pouco cacheados nas pontas.
— Santa Ignorância! — disse, me provocando novamente.
Permaneci em silêncio, esperando que ela fosse embora.
— O que te deixou tanto tempo longe da escola?
— Nada que seja da sua conta. — disse, tentando não lembrar de minhas feridas.
— Ah... — ela me jogou um olhar receoso, que fez meus braços se encolherem.
— Preciso ir para a aula, o sinal já tocou.
— Você não precisa ir agora, eles não vão te barrar se você se atrasar um pouco.
— Não, obrigada. Não quero mais perder aula.
Então, passei por seu corpo presunçoso e caminhei em direção à minha sala. Ela, porém, moveu apenas seu olhar em minha direção.
Voltei para a aula correndo. A professora lançou-me um olhar severo, mas ignorei-o e sentei na única carteira vazia. Era aula de química e eu, particularmente, odiava gastar meu tempo escutando sobre a nomenclatura das cadeias de hidrocarbonetos ramificadas. Abaixei a cabeça e adormeci, esperando não ter pesadelos que me fizessem gritar no meio da sala de aula.




1 comentários:

laís hiromi disse...

*_*

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