Capítulo 7 - Refúgio

O passado já não importa mais.
As contraditórias extravagantes, hipócritas e inúteis foram apagadas.
Os que permaneceram, francos e leais, dominavam meu álbum de recordações.

Seu olhar intrigava-me. Promovia complexos auspiciosos e, ao mesmo tempo, ridiculamente genuínos.
O par de olhos esverdeados, tom de musgo, fitou-me com gratidão, simpatia e se encontravam nervosamente ansiosos. Enquanto um sorriso aberto e involuntário estampava-se em minha face, agora desenvolvida e com pequenos vestígios de pêlos crescendo, outro par de olhos dolorosamente lindos, com o brilho prateado e ingênuo, contemplava-me com desprezo e raiva. “Obrigada, Guilherme, não sei o que faria se você não tivesse passado-me a matéria”, disse a dona do par de olhos verdes. “Não há de que”, sussurrei, com o sorriso ainda permanente em meu rosto.
O par de olhos de cor fúnebre clara, no entanto injustamente sedutor e magnífico desviou-se para a direção contrária, lutando para não acabar nos meus.
— O que há, agora? – indaguei, mas sabia do que se tratava.
— Preciso repetir? – disse Bruna, com rispidez. Às vezes, a beleza resplandecente de seu corpo, somando à de seu rosto não era o suficiente para manter-me longe da Terra.
— Não, porque já sei de cor, picotado e ao contrário – murmurei com sarcasmo. – Apenas não precisa agir assim perto dela. E ainda não me conformo como você consegue ser tão descontrolada.
— Descontrolada? – cuspiu ela, com repulsa. – Não sou obrigada a gostar de ninguém, muito menos dela!
— Ela nada te fez.
— Ela roubou você de mim – sussurrou, levando em sua voz baixíssima, a ingenuidade que eu apreciava, mas não a brincadeira que eu gostava. Parece que nunca falara tão sério.
Forcei uma risada convincente.
— Ainda sou seu – declarei, abrindo outro sorriso, mas diferente. Não tão espontâneo.
Seu corpo agora não era mirrado, pálido e frágil, como há poucos meses. Neste período, Bruna alcançara os seus orgulhosos 1,69 cm, enquanto eu cheguei aos 1,74 cm. Meu aniversário estava perto. O começo da adolescência dera a ela argumentos para vencer em questões físicas. Ganhei também concorrência, pelos inúmeros meninos que se arrastaram a ela em sete meses. Não só nossa estatura, mas como juntamente nossos dons naturais aperfeiçoaram-se. Passei a desenhar em estilo japonês, tocar violão e viciar em jogos de lógica e estratégia. Bruna ganhou facilidade no piano, porém não foi preciso melhorar o que era perfeito: o violão em seus dedos. Ela também exibiu ao público o poder de sua voz na primeira apresentação musical de teatro, impressionando a todos. Mas eu sempre ouvira sua voz em prática na melodia, no entanto ainda não me acostumei.
Abracei-a, tocando meus lábios grossos em sua testa, como era de costume fatal executar.
— Não mais – segredou, com as mãos presas ao fichário preto. – E não é mais um motivo para eu ficar melancólica ou apresentar o começo de TPM, é a mais pura verdade. Basta observar seus gestos quando fica perto de Mariana.
Criei costume de ouvir isto quase toda semana. Revirei meus olhos, fingindo não ouvir enquanto ela balbuciava e apanhava alguns livros em seu armário com superlotação de adesivos:
— Você pode até me ignorar, mas sabe muito bem da verdade. Prometeu daquela vez que ia me avisar quando aparecesse alguém. Não me avisou. As meninas que sempre gostaram de você. Não me avisou. Também tem...
Calei-a enquanto dizia em voz baixa:
— Você fica linda até reclamando.
Ela me bateu com o fichário pesado.
— Ai! – exclamei, enquanto gargalhava.
Sua silhueta perfeita, moldando a regata branca de listras pretas em seus seios volumosos e a calça jeans em suas coxas espessas, caminhara de volta à aula, com a expressão de incompreensão no rosto.
Agarrei seu pulso antes que ela pudesse por os pés na classe, girei seu corpo e o prendi na parede, que agora era muito mais fácil com minha força a mais. Seus lábios separaram-se para protestar, mas acabei enchendo suas bochechas rosadas de calor por beijos. Gostaria de poder selar também seus lábios, mas não foi possível, de novo. Trouxe à tona meu lado sedutor, enquanto roçava meus lábios úmidos em seu rosto, prendendo seus pulsos contra a parede. Não me alterei ao pensar nos alunos que ali passavam, afinal já estariam acostumados com aquela repetitiva cena.
— E agora, mulher? – sussurrei em seu ouvido, enquanto deixava passar os palavrões por ela falados em voz alta e clara.
— Te odeio – gargalhou ela. O riso de cristais se encontrando de leve.
— Vamos entrar.
As aulas, agora, davam de mão beijada o convidativo tédio e a vontade de desenhar cada vez mais. Esboçar tornara-se uma obsessão. Não era de minha vontade aprender a enciclopédia sobre Pitágoras ou coisa parecida. Acho que poderia montar também uma enciclopédia no final do ano, mas apenas de desenhos. Apostei com Pedro que eu poderia comprar cinco livros com o dinheiro gasto com os lápis e papéis.
Enquanto fazíamos as tarefas monótonas e inúteis, Bruna murmurou:
— Ela está te olhando.
Levantei a cabeça em sua direção, depois seguindo a direção de seus olhos. Corei. Mariana sorria intensamente, obrigando-me a sorrir também, enquanto a pele de meu rosto ardia.
— Pelo visto o beijo de ontem deve ter sido muito bom – riu Bruna, mas pude notar uma pequena nota de agonia em sua voz baixa. Depois, processei o que ela dissera. Congelei.
Minha lapiseira escapara da mão, encontrando o chão. Disfarcei meu rosto que ardia mais intensamente, buscando pela lapiseira. Como ela descobrira? Eu não havia contado para ninguém, a não ser para Pedro e Mônica. Jogar sujo para conquistar Bruna seria hipócrita e ridículo. Jogar na cara que eu tinha beijado Mariana ontem, no shopping, não era um comportamento típico de mim.
Mas prometi que iria contar a ela.
Ou não.
Achei a lapiseira, agarrando-a com força, voltando para cima. Respirei fundo.
— Como você sabe disto? – indaguei, voltando a escrever.
— Então é verdade – cortou ela, a voz distante.
— Responda-me, droga – irritei-me.
— Apenas juntei os fatos, Guilherme. Você não estava em casa. Não saíra com Pedro ou Victor. E, de madrugada, Mariana anunciou para quase toda a Internet que fora o dia mais perfeito de sua vida – disse, com aspereza.
— Eu ia te contar – menti.
— Acabou de contar – corrigiu ela, lembrando-me da discussão de sete meses atrás. Fiquei apavorado. Minha caligrafia saiu horrível. — Mas não se preocupe. Conte-me detalhadamente que eu te perdôo – riu ela, alguns segundos depois.
— No final da aula – haviam testemunhas demais. Queria que poucas pessoas soubessem. Retornei minhas mãos no novo rabisco, que ganhava feições organizadas e geométricas. Os doces e curiosos olhos dela passeavam entre o quadro-negro, o professor e meus esboços. Quando o sinal finalmente tocara, Bruna me fez correr porta afora, ao seu lado. Descemos a escadaria até chegar à rua.
— Pode ir contando – disse ela, com um leve divertimento, enquanto ela enterrava suas mãos nos bolsos do jeans. Deixara o fichário no armário, livrando-a de peso. Fiz a mesma coisa, imitando seu movimento.
— Por onde eu começo? – fitei o céu anil com várias nuvens, caminhando lentamente na direção de nosso caminho rotineiro.
— Como marcaram? O que você pensou enquanto se preparava para encontrá-la?
Uma corrente de ar leve balançou alguns fios de meu cabelo, refrescando-me. O calor de verão era intensamente insuportável, então eu optara por regata e bermuda para ser meu novo uniforme. Conforme eu dizia detalhadamente como fora meu domingo, ele todo passou novamente em minha mente, assim como na noite anterior, antes de dormir.

O relógio digital do criado-mudo piscou 14:30h. Repassei toda a conversa que tive com Mariana nos últimos dias. Aproximamo-nos tão repentinamente como da vez em que eu soube que ela era apaixonadamente louca por mim. Conversávamos excessivamente sobre quase tudo. Comecei a dedicar meu tempo para três coisas: desenhos, Bruna e Mariana.
No entanto não havia nada além disto. Ainda preferia a companhia de Bruna, disparadamente.
Mas Mariana... conseguia me fazer tão bem quanto Bruna. O mesmo conforto, talvez. Teoricamente impossível.
Comecei a me arrumar. Tomei uma ducha caprichada. Penteei o cabelo com gel, troquei o adorno do piercing. Selecionei uma camiseta de marca, uma bermuda cáqui e a corrente de prata que Pedro me dera. Os tênis brancos grandes. Relembrei de meu corpo há meses atrás. Realmente, eu havia mudado. Alguns poucos músculos surgiram em meus braços, minha barriga se alisara.
Marcamos para as três e meia. Eu tinha um pouco mais de meia hora de tempo aberto, reservado para refletir. Despedi-me de minha mãe e Mike, pegando o ônibus para o shopping. Não era longe, mas não estava afim de caminhar.
No caminho, pus-me a pensar.
Estaria magoando Bruna? Aparentemente não, pois do mesmo modo de como ela se punha irritada com Mariana, ela voltava ao seu humor bom e risonho, perguntando da mesma. Um comportamento bipolar, talvez?
Consegui assumir há pouco tempo que estava trocando meu tempo com Bruna, deixando-a de lado quase que pela metade. Mariana fazia parte de minha rotina de socialização.
E Bruna, esperava por mim. Não como eu gostaria, mas estava sempre ali.
A silhueta magra aparecera no horizonte do shopping, e enterrei meus pensamentos.
Mariana realmente mudara, não como Bruna e eu, mas totalmente, tanto no físico quanto em mentalidade.
Emagrecera a ponto de a chamarem de anoréxica; hidratara o cabelo, alisando-o. Pintara também de um castanho claro. Passou a usar lentes, a ter roupas mais modernas. Aquilo chamara a atenção da escola toda. Creio também que até Bruna, que antes poderia ser não apenas para mim, mas a mais linda de todas, ganhara uma pequena concorrência. Claro que Mariana nada era comparada à Bruna, mas parecia que esse tipo de competição ocorria todos os dias.
Não queria que fosse visto com ela no shopping central, então combinamos em um quase vazio. Isto porque todos sabiam da paixão de Mariana por mim, e iriam rotular-me apenas porque aceitei “ficar” com ela, com sua mudança drástica. Não era verdade. Obviamente isto influenciou, mas sua mentalidade compunha noventa e nove porcento de minha mudança de pensamento.
Toquei meus lábios em sua bochecha magra, fazendo-a corar. Caminhamos lentamente, com uma certa intimidade, aliviando-me. Pronunciávamos as palavras de forma descontraída e divertida, sempre fazendo piadas. Paguei um sorvete a ela, caminhamos de novo. Ela demonstrou interesse ao passar em uma loja com aparelhos eletrônicos, então observamos atentamente os produtos. Andamos por vários corredores cercados das mais diversas lojas, enfim chegamos ao maior deles, com a parede lateral e a do final de vidro. Extremamente possível enxergar tudo o que se passava do outro lado do shopping, inclusive a paisagem que emanava o fundo, composto por uma enorme floresta de pinheiros e alguns morros. Apesar da paisagem tipicamente gélida, eu sabia que lá fora o calor era quase mortal.
Mariana passou a mão em minha cintura, largando seu braço ao redor.
— Amo esta paisagem. Toda vez que venho, fico horas admirando-a.
— Vim poucas vezes aqui, e também adoro – era verdade. Um refúgio pouco freqüentado, infelizmente. Paisagem calma, confortante.
No instante, para realizar meu inferno emocional, Bruna retornou à minha mente. Merda, estava ótimo sem ela me perturbar daquele jeito. Eu estaria fazendo a coisa certa? Já não havia decidido que não perderia as oportunidades que aparecessem, mas esperaria eternamente por ela?
Mariana me fazia feliz. É certo, não tão como Bruna, uma coisa indiscutível. Porém ela era meu outro tipo de conforto, um talvez que envolvesse apenas a mais pura amizade. Como um prazer de viajar com os melhores amigos, ou acordar em uma manhã ensolarada, em algum sítio com piscina, lotado de amigos. Ela causava a agradável sensação de eu ter milhões de amigos sinceros.
Por que não, então, tentar? Não me custava. “Aproveite”, sussurrei mentalmente para mim mesmo.
Fitei o rosto de Mariana, agora tombado em meu ombro. Seus olhos de esmeralda brilhavam intensamente, um verde líquido, ofuscante. Eles encontraram os meus, cinzas claro. Pelos olhos, poderiam me confundir como irmão de Bruna. Mas sempre duvidei que os meus tivessem o mesmo brilho que os dela. Apenas tinham traços ondulares que variavam de cinza escuro à cinza claro. Este par inutilmente expressivo, obrigara minha boca se contrair em um enorme sorriso. Mariana o retribuiu, com seus lábios cheios e avermelhados se esticando. Ela observou o contorno de meus lábios, que murchou o sorriso enquanto meu rosto ardia de calor.
Puxei sua cintura para a minha, e toquei seus lábios com os meus.
No começo, as emoções chegavam uma a uma, porém tão rapidamente que tremi meu corpo. Mariana o apertou forte, para mantê-lo ali. Eu não tinha a intenção de fugir. Tinha o propósito de permanecer, até que alguma parte de meu corpo se sentisse totalmente preso à Mariana, como meu corpo inteiro sentia-se prisioneiro perpétuo de Bruna. Ao menos, então, haveria uma chance de competição. Mas nem isso.
Lutei para que minhas mãos encostassem em seu corpo. Acariciei então, seu rosto, roçando os lábios nos seus. A outra mão apertou sua cintura, enquanto ela entregava-se como ninguém, a mim. Forçou sua própria língua invadir minha boca, coisa que tive muito receio para que acontecesse. Então, enxerguei apenas um modo de poder fazer Mariana feliz por um momento, aproveitando a situação. Por mais ridícula e contraditória que fosse a idéia, daria certo.
Mentalizei Bruna novamente. Seu corpo. Seus lábios. Seu jeito. O modo como entregava-se. Aos poucos, relaxei e estava com Bruna totalmente em mente, meus olhos cerrados.
Lentamente, fui enfraquecendo o beijo. Um sorriso final nos dois rostos me satisfez.
— Te amo, Guilherme – murmurou ela.
Não pude responder; só responderia se fosse para retribuir. Para que mentir? Mortifiquei o sorriso, reduzindo-o para uma elevação do canto da boca.
— É, não precisa responder – continuou, fitando agora o vazio. Ela conhecia muito bem meus sentimentos.
Toquei seus doces lábios novamente, finalizando.

Ao terminar de contar, mais surpreendente foi a reação de Bruna.
— Hmmm – emocionou-me ela, com seu comentário mais do que produtivo.
— Argh, Bruna. Conto que beijei uma menina e você fala isto?
Nenhum ruído.
— Você gostou? – indagou ela, fria e distraída.
Sua voz intrigante fisgou-me. Eu havia mesmo gostado?
Obviamente, tão obvio até para uma criança, que não se comparou nada com aquele único beijo que realizou minha vida no aniversário de Marília. Mas... Mariana me dera o aconchego e a sensação boa que Bruna nunca estava disposta a dar. Bruna nunca se entregara como ela. No entanto, isto importava?
— De certo modo – falei a verdade, enquanto abria a porta de casa. Bruna esperou todo aquele ritual diário de cumprimentar quem estivesse em casa, deixar a mochila em meu quarto e se trocar para continuar a falar. Poderia pensar o tempo que fosse para falar.
Neste verão, revezamos que um dia iríamos para casa dela, outro dia na minha. Com o calor insuportável, passamos a tarde inteira na piscina. Meus olhos se satisfaziam, afinal eu poderia vê-la de biquíni todos os dias. Ridiculamente fútil, porque não me interessava seu corpo tanto quanto sua personalidade. No entanto, é comum da puberdade sentir mais atração do que qualquer coisa. Poderia valer para mim, mas estava permanentemente certo de que queria ter seu coração, não seu corpo.
Bruna, então, não disse nada mais sobre Mariana. Incrivelmente irônico. Há meses, desejei que ela sequer pensasse em Mariana. Agora, gostaria que Bruna comentasse um pouco mais dela. Talvez, por puro desejo de que ela sentisse ciúmes, ou se preocupasse comigo. Mas nem isto.
Um espirro de água levemente fresca cortou meus pensamentos.
— Vamos chamar Lílite, Pedro, Paula, sei lá. Há uma semana que não nadamos com eles – disse Bruna, com os cabelos úmidos para trás, exibindo seus seios em um biquíni branco estampado.
Liguei para nosso grupo. Particularmente, apenas faltava um nome para nós, e poderíamos montar até uma banda. Mas ninguém realmente quer preocupações, e não são todos que tocam ou cantam. Poderíamos fazer isto pelo simples fato de sempre sermos os mesmos: os oito adolescentes inseparáveis.
Uma pequena festa em plena segunda-feira.
Sempre preferi deixar as festas para os fins-de-semana. Por mim, passaria todos os dias do verão escaldante competindo o nado mais veloz, admirando o modo como ela, Bruna, cochilava, apanhando sol. Eu sempre a assistia, do lado de dentro, na piscina. Ela adormecia sob o sol lá fora, junto ao jardim. Dividindo as bebidas inventadas pela boa e paciente Mônica, que muitas vezes chegava exausta pela noite, querendo um refresco junto a nós.
Mônica estava exercendo sua função lealmente, enquanto avaliava com a atenção natural das mulheres os diversos casos daqui, Verone City. Nenhum homicídio, apenas pequenos furtos e roubos. Obviamente, Verone City era boa demais para ocorrer crimes como estes. Voltava exausta, pois muitas vezes tinha que ir à própria residência do culpado. Isso consumia paciência e compreensão de sua parte, mas nada impedia que ela voltasse amistosa e feliz. Encontrar seu filho e sua futura namorada mais seus melhores amigos reunidos num coro de risada na piscina de casa, para ela não era ruim. Pelo contrário.
E eu creio que nenhuma mãe chega a ficar tão encantada como a minha, quando se vê uma cena desta. Não é por acaso que eu a chamo pelo nome, Mônica. Como se fosse uma amiga, a melhor de todas. Talvez uma irmã a qual não se briga jamais. Não uma mãe.
Boa demais para ser mãe.
Como se era esperado, Mônica chegou, exausta e transbordando de alegria ao ver meus amigos e eu, mergulhados na piscina coberta de casa. Imediatamente, preparou oito copos de suco de abacaxi com pêra, entregando-nos sem cerimônia. Quis juntar-se à festa, mas preferiu tomar banho e cair inconsciente na cama. Assenti.
Nossas férias estavam se aproximando. Viajar ainda não estava em nosso roteiro. Não seria enjoativo muito menos incômodo para mim passar todos os dias como se fossem normais, com aula. A tarde toda na piscina, a pele escurecendo de tanto sol, desde que seja ao lado de amigos, e em especial, de Bruna.
Mariana não fazia parte de minhas férias. Nunca fora, por que seria agora?
Não perturbaria a ela passar um mês sem me ver. Não perturbaria a mim.
— Não se esqueça que ela ama você – sobressaltou Pedro, depois de eu ter lhe dito meus pensamentos em voz baixa. Sua voz sublinhou a palavra ama.
Pensei melhor.
— Se ela pudesse, pediria você em namoro – completou ele, sugestivamente, enquanto brincava com a água.
— Eu não aceitaria – respondi de imediato.
— Como pode saber? Você mesmo disse que não é a mesma coisa em relação à Bruna – murmurou ele – É óbvio que não. Mas ela serve como conforto, como um pequeno refúgio. Por enquanto.
— Não quero iludi-la. Já praticamente joguei sujo, por ter beijado Mariana.
Ele me encarou feio.
— Você diz que não quer iludi-la e fala que a beijou para jogar sujo com Bruna? – sua voz subiu um tom. Joguei água em sua cara, fazendo-o rir.
— Por esse e outros motivos – completei.
— Não te entendo. Definitivamente não.
— Nem eu entendo você e Lílite – ri sarcasticamente, relembrando de todo seu histórico com a ruiva cacheada. Lílite gostava de Pedro não como amigo apenas. Disse à Bruna que “ficaria” com ele. Prometi guardar o segredo, mas sempre joguei indiretas. Para provocá-lo, afinal Pedro percebera isto da própria ruiva. Ele, confuso e cômico como era, já a beijara antes. Mas não gostava.
Ironia do destino.
— Não é necessário entender. Ela gosta de mim. Mas não correspondo. Beijei-a por carência. Simples, não? – irritou-se. Não era bom em expressar sentimentos como aquele, ao menos para mim.
E, realmente, meu caso era mais complicado. Eu simplesmente não avançava um passo com Bruna por medo de estragar tudo construído até agora.
A ferida que eu poderia causar tinha pouca chance de cura. Isso provocaria muito mais dor em mim do que nas duas semanas em que brigamos, há meses. Porque, de fato, a ferida iria durar muito mais do que duas semanas para se curar.
Talvez anos.
Estremeci com a idéia, mergulhando fundo na água. Era um bom modo de entorpecer-me. Embaixo dela, não me preocupava com os problemas. Prendi a respiração e rodei pela piscina, inúmeras vezes.


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